Olá! Muitas vezes professores se deparam com alunos com dificuldade na leitura e na escrita, mas ficam em dúvida se é um distúrbio ou falta de atenção e capricho.
O objetivo deste texto é oferecer para pais e professores uma explicação simples e objetiva dos distúrbios mais comuns de leitura e escrita, facilitando a identificação e encaminhamento para um profissional especializado para avaliação e tratamento. Sei que para professores de escolas públicas, muitas vezes é difícil fazer este encaminhamento, por escassez de profissionais que atendam estas crianças na rede pública ou porque os pais não compreendem a necessidade. Porém, tendo conhecimento quando pode ser um distúrbio, o professor terá maior compreensão do aluno, facilitando o trabalho, podendo ajudá-lo e não cobrando aquilo que ele não tem condições de corresponder.
Só é possível diagnóstico de distúrbio de leitura e escrita, após terminado o processo de alfabetização (em torno do final do segundo ano). Porém se durante o processo já há uma percepção de erros muito frequentes, muito maior em comparação ao grupo, pode ser considerada uma criança de risco, exigindo uma atenção e observação especial durante todo processo.
DISGRAFIA
A "letra feia" pode ser um distúrbio: DISGRAFIA
CARACTERÍSTICAS:
Letra ilegível.
Dificuldade motora para escrever.
Dificuldade para copiar.
Ritmo de escrita inadequado, rápido ou lento demais.
Dificuldade na organização da escrita no papel.
Prejuízo na preensão, escreve com muita força ou muito fraco.
COMO O PROFESSOR PODE AJUDAR
Valorizar as habilidades do aluno. Mesmo que pouco se consiga entender o que está escrito, valorizar aquilo que foi possível ler, as palavras que escreveu corretamente, a ideia para elaboração do texto, incentiva o aluno a querer produzir. Muitas vezes ele já sente vergonha da sua letra, mas por ser um distúrbio, não consegue fazer melhor. Se nada for valorizado, a tendência é que cada vez se sinta mais desestimulado, agravando o quadro.
Dar o tempo necessário para que consiga escrever e copiar. Em geral o aluno com disgrafia escreve muito rápido ou muito devagar. Se escreve rápido sinalize para que ele escreva mais devagar, que tenha mais cuidado ao redigir. Os que escrevem com lentidão, dê o tempo necessário para que consiga, faça xerox da matéria se necessário, especialmente quando for textos longos para copiar. Caso não consiga terminar no tempo estipulado, não punir mandando copiar na hora do recreio. Combine com o aluno formas que ele possa sempre ter toda a matéria.
Recados na agenda Quando o aluno escrever os recados na agenda, verificar se está correto e legível.
Exercícios motores Ajudam muito e podem ser trabalhados em parceria com professores de educação física e artes.
Quando o aluno se sente compreendido e apoiado, melhora sua auto estima, tira a tensão do medo de errar e desagradar. A tendência é se esforçar cada vez mais para superar suas dificuldades.
DISORTOGRAFIA
CARACTERÍSTICAS:
Não há comprometimento na leitura e no funcionamento cerebral.
Erros ortográficos significativos.
Falhas frequentes de pontuação e acentuação.
Déficit para compor textos.
Capacidade baixa para formação de parágrafos.
COMO O PROFESSOR PODE AJUDAR
Valorizar o que o aluno faz corretamente. O aluno com disortografia apresenta muitos erros ortográficos. Como a correção destes erros são frequentes em toda a trajetória escolar, se avaliado como os colegas que não tem o distúrbio, suas lições e provas tornam-se apenas erros, sendo uma fonte constante de frustração. Sempre há algo que pode ser valorizado quando o aluno produz. Auxiliá-lo nas dificuldades e reconhecer as boas produções, vai incentivá-lo nos estudos.
Banco de palavras Elaborar um banco de palavras com aquelas que o aluno apresenta erros frequentes. Dessa forma ele poderá memorizar melhor, destacando estas palavras das outras, como também pode sempre consultar quando tiver dúvidas.
Exercícios diversificados com as palavras que o aluno apresenta erros frequentes. Diversificar as atividades utilizando as palavras que ele erra com frequência, é uma forma do aluno estar em contato com estas palavras, como também realizar atividades mais divertidas. Sugestões: caça palavras, palavra cruzadas, completar palavras, completar frases, jogo da forca.
DISLEXIA
Características
Confundir letras com grafia ou sons mais ou menos similar (p/b; b/d; f/v; m/n; t/d; c/g; s/ x/ z)
Omitir letras, sílabas e palavras.
Omitir e acrescentar sons.
Perder ou repetir linhas ao ler.
Dificuldade na soletração
Dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra.
Dificuldade na orientação espacial.
Baixo rendimento na maioria das disciplinas que têm por base um bom domínio da leitura.
Desânimo na aprendizagem em geral.
Na frase: "A vaca tem leite". A criança pode ler: " A faca tem leite", muda completamente o sentido, podendo também contaminar a escrita. Assim como pode ler pote na palavra bode; teto para dedo; perto para preto.
Alguns sinais na Pré-escola
Dispersão.
Fraco desenvolvimento da atenção.
Atraso do desenvolvimento da fala e da linguagem.
Dificuldade de aprender rimas e canções.
Fraco desenvolvimento da coordenação motora.
Dificuldade com quebra-cabeças.
Falta de interesse por livros impressos.
Alguns sinais na Idade Escolar
Dificuldade na aquisição e automação da leitura e da escrita.
Pobre conhecimento de rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras).
Desatenção e dispersão.
Dificuldade em copiar de livros e da lousa.
Dificuldade na coordenação motora fina (letras, desenhos, pinturas etc.) e/ou grossa (ginástica, dança etc.).
Desorganização geral, constantes atrasos na entrega de trabalho escolares e perda de seus pertences.
Confusão para nomear entre esquerda e direita.
Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas etc.
Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou longas e vagas. fonte: Associação Brasileira de Dislexia - ABD
COMO O PROFESSOR PODE AJUDAR
Evitar que o aluno leia em voz alta perante seus colegas.
Não avaliar negativamente os erros disléxicos, quando troca b por d, ou f por v, etc.
Verificar agenda quando o aluno escreve um recado.
Dentro do possível planejar estratégias de ensino diferenciadas, como desenhos, em forma de tópicos, aulas expositivas, para que ele tenha a mesma oportunidade que os outros de aprender.
Avaliar de forma oral, já que sua compreensão de leitura é prejudicada e sua escrita é lenta.
Respeitar seu ritmo.
Não comparar com outros alunos.
Nos 3 distúrbios, é nítida a dificuldade que o aluno terá em todas as matérias que envolvem textos, e até em matemática na compreensão de problemas. É muito importante valorizar o empenho deste aprendiz, não só o desempenho.
Referências bibliográficas:
Condemarin, Mabel; Chadwick, Mariana; Milicic, Neva - Maturidade escolar, Enelivros, Rio de Janeiro, 1986
Capovilla, Alessandra; Capovilla, Fernando - Problemas de leitura e escrita, Mennon, São Paulo 2000
Condemarin, Mabel - Dislexia, manual de leitura corretiva. Artes Médicas, Porto Alegre, 1989
Ajuriaguerra, J. de e colaboradores - A escrita infantil, evolução e dificuldades, Artes Médicas,Porto Alegre, 1988
Ellis, Andrew, Leitura, escrita e Dislexia, uma analise cognitiva - Artes Médicas, Porto Alegre, 1995
Pinheiro, Angela Maria Vieira - Leitura e escrita, Editorial Psy II, Campinas/SP, 1994
Condemarin, Mabel - Leitura corretiva e remedial. Editorial Psy II, Campinas SP, 1994
Ajuriaguerra, J. - A dislexia em questão. Artes Médicas, Porto Alegre, 1990
Condemarin, Mabel - Leitura Silenciosa e Contínua. Casa do Psicólogo Livraria e Editora. São Paulo, 1987
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