Olá! Dando continuidade ao texto sobre desenvolvimento cognitivo da criança dos 0 aos 2 anos, agora vou falar sobre a criança de 2 a 7 anos, como ela aprende, vivencia e interpreta o mundo. Este período foi denominado por Piaget como Pré Operatório, a fase da fantasia, a idade dos" porquês". Tudo ela pergunta, quer saber porque acontece, mas ainda não consegue abstrair e perceber reversibilidade, só acredita naquilo que vê. No período anterior ocorre um grande desenvolvimento físico, motor, inicia a linguagem, agora a criança começa a elaborar, organizar e refinar todas estas vivências. O que caracteriza este estágio é o aparecimento da função simbólica, ou seja, a capacidade de usar representações mentais, que podem ser imagens, números ou palavras e atribuem um significado.
PERÍODO PRÉ-OPERATÓRIO
(de 2 a 7 anos em média)
Divide-se em 2 estágios:
1 – Pré Conceitual - (2 aos 4 anos em média)
Principais características:
Pensamento egocêntrico - centrada em si mesma, não consegue se colocar abstratamente no lugar do outro.
Grande desenvolvimento motor.
Consegue rosquear, empilhar.
Linguagem com significante (pensamento) e significado (expressão do pensamento).
Maior independência de AVD (atividades de vida diária).
Faz pareamento - formar pares, percebendo semelhanças e diferenças.
Separa objeto por cor, forma, tamanho.
Jogo simbólico - recria a realidade usando seu sistema simbólico. É o famoso "faz de conta", essencial para o desenvolvimento emocional e cognitivo.
SUGESTÕES DE JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
Contar histórias é essencial! Organizar um momento diário para contar história, seja antes de dormir ou um horário mais adequado ao esquema da casa. Mesmo que a criança ainda não saiba ler, ter esta rotina, além de ser um momento precioso com os pais, cria o hábito saudável da leitura. A história estimula a fala, o desenvolvimento do jogo simbólico, aumenta o vocabulário.
Brincar com a história - Recontar com a própria linguagem, sem ler; contar um pedaço e a criança continua, recriar o final da história, imitar a voz dos personagens; fazer teatrinho.
Fantoches - Deixar a criança brincar livremente criando as próprias histórias ou contar histórias conhecidas com os fantoches. Fazer teatrinho com caixa de papelão para brincar com os fantoches. Eles adoram!
Potes para encaixar tampa, rosquear, brinquedos pedagógicos, tudo que estimule o desenvolvimento motor fino.
Estimular a autonomia - Para comer, ir ao banheiro, se vestir, pegar e guardar os brinquedos. Mesmo que no início seja desajeitado, a criança tem que começar a fazer estas atividades sozinha, só assim que conseguirá aprender.
Jogo de memória simples, com poucas peças.
Potes, tampas, brinquedos de várias formas, cores, texturas. Brincar de fazer pares, separar de acordo com 1 atributo (cor, forma, textura, tamanho). Por exemplo: Colocar todas as tampas azuis em um pote e as amarelas em outro, ou grandes e pequenas, quadradas e redondas.
Entrar no mundo do "faz de conta" da criança quando faz um pedaço de madeira que vira carro, um potinho que vira xícara, etc. Potes, tampas, caixas, sucatas podem virar brinquedos incríveis!
Miniaturas de objetos da casa (fogãozinho, pratinho, copinho, etc); frutas de plástico, bonecas, bonecos, casinha, carrinhos, estimulando a brincadeira do "faz de conta".
Brincadeiras ao ar livre; parquinho; bicicleta com rodinha; bola, etc.
2 – Intuitivo - ( 4 aos 7 anos em média)
Julgamento baseado na percepção e não na lógica.
Argumentos, razões - Idade dos “porquês”. Como para a criança nesta fase o pensamento é concreto, ainda não consegue ter pensamentos abstratos, tudo tem que ter uma razão, uma lógica concreta, por isso pergunta.
Independência de AVD (atividades de vida diária). Comer sozinha, trocar de roupa, banho, etc.
Maior habilidade motora – Anda de bicicleta, consegue abotoar, usar tesoura e fazer alinhavos.
Classifica objetos por cor, forma, ou tamanho, etc.
Percebe conceitos espaciais - (dentro/ fora; em cima/ embaixo; na frente/ atrás/ do lado, longe/ perto).
Conceitos quantitativos ligados à percepção.
Com 6 anos em média começa a percepção de inclusão e seriação.
Inclusão: vários grupos que pertencem a outro grupo. Ex: se eu mostro para ela 8 flores vermelhas e 3 amarelas. Aponto para as flores vermelhas e pergunto: "- O que é isso?" Ela vai responder flores. Depois mostro as flores amarelas e de novo pergunto o que é. Ela vai dizer flores. Em seguida questiono: Tem mais flores vermelhas ou mais flores? Quando ainda não tem percepção de inclusão vai responder que tem mais flores vermelhas porque está vendo mais flores vermelhas e não tem estrutura cognitiva para perceber inclusão, que ambas as cores fazem parte do mesmo grupo de flores.
Seriação: do menor para o maior; do maior para o menor. Este conceito é necessário para percepção de quantidade.
Representação gráfica - Inicia-se a intenção de representar graficamente o que vê e pensa.
Desenho – pré esquemático - No começo faz desenhos bem rudimentares, riscos, rabiscos, bolinhas, ficando mais estruturado no final deste estágio.
Imagem mental - É a interiorização de situações que ela vivenciou. A capacidade de criar imagens mentalmente.
Observação: Todos estas características já estão presentes aos 4 anos e vão se aprimorando no decorrer deste estágio. Com 7 anos a criança desenvolveu todas estas estruturas cognitivas, estando pronta para entrar no próximo estágio, Operações Concretas (dos 7 aos 11/12 anos).
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Conversar muito com a criança, explicar todos os porquês, isto vai ser importante para ela estruturar sua lógica, aumentar sua percepção e seu vocabulário.
Histórias que podem ser mais elaboradas do estágio anterior.
Fantoches.
Delegar funções para ajudar na rotina da casa.
Aumentar a autonomia (comer, tomar banho, ir ao banheiro, vestir-se).
Muitos jogos pedagógicos - de montar, encaixar (nas lojas tem classificação de idade e auxilia bastante na escolha).
Jogos como memória, dominó, quebra-cabeça.
Lápis de cor, giz de cera, tinta, caderno de desenho ou folhas avulsas, papel pardo que tem um grande espaço para ela explorar. Desenhar junto, perguntar o que desenhou, elogiar.
Massinha.
Muitas brincadeiras ao ar livre!
Cada criança tem seu ritmo, por isso as idades são colocadas em média. Há também a peculiaridade de cada uma, algumas crianças têm maior agilidade motora, outras são mais mentais. Cada ser é único!
É importante observarmos as características individuais para poder compreender e estimular.
Mesmo crianças com atraso no desenvolvimento, independente da idade, é importante que sejam estimuladas em todos estes aspectos, de acordo com o estágio que se encontram.
Como dá para observar, é essencial para o desenvolvimento da criança, a interação com o meio, manipular objetos, brincar, correr, conversar, ouvir história . Nesta era de tablet, jogos eletrônicos, cada vez mais cedo as crianças estão fascinadas por esta tecnologia e brincando menos. Não desconsidero a funcionalidade destes instrumentos, inclusive para o desenvolvimento da criança, mas não se pode perder de vista que a prioridade é o contato, brincar, interagir.
Fazer as refeições juntos, conversando, interagindo, manusear livros de história, jogar bola, ir na praia, parquinho, andar de bicicleta, brincar com brinquedos, deve ocupar a maior parte do tempo da criança e o uso da tecnologia, apenas em pequenos períodos. Fazer combinados, estipulando horários e tempo para brincar com a tecnologia é uma forma de fazê-los entender. O adulto também tem que fazer sua parte: dar atenção para a criança, brincar, conversar, interagir e não ficar só no smartphone!
A criança imita, dar o exemplo é vital!
Referências bibliográficas
PIAGET, JEAN; INHELDER, BARBEL - A Imagem Mental na Criança, Livraria Civilização Editora, 1977
PIAGET, JEAN - O nascimento da inteligência na criança, LTC Editora; 1987
PIAGET, JEAN - Epistemologia Genética, Martins Fontes 2012
PIAGET, JEAN - A Psicologia da Inteligência, Vozes 2013
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